sexta-feira, 14 de abril de 2017

Voz silenciosa


Começar a conhecer um lugar novo é como começar a conhecer alguém. Há a primeira impressão, as memórias a que aquele lugar te remete, as relações que se estabelecem nele e, principalmente, que sentimentos aquele canto do mundo ativa em vc. Tenho gostado particularmente dos lugares-pessoas que abraçam, que acompanham os passos, ora lentos ora rápidos, daquela relação que começa a se formar. Entrar no Saco do Mamanguá foi como entrar em mim, me perceber pequena na imensidão do todo, e enorme no silêncio de seus dias. Nunca havia me sentido tão bem em um lugar. Foi lá que voltei, com toda a gentileza do mundo, aos meus 4 anos de idade, quando eu e minha família vimos a Andreia, tão pequenina, partir rumo ao desconhecido. Foi lá no Mamanguá que a Andreia, cujas palavras nunca foram pronunciadas, se tornou de repente tão imensa. Foi lá que eu e ela, em nossas gigantes pequenezas, nos transformamos na voz de Deus. Nunca antes ouvida por mim, sua voz era linda, calma como as águas que via à minha frente. Uma voz que conversava comigo sem dizer uma só palavra, uma voz que me envolvia no abraço mais acolhedor da vida. Era o abraço da mata, do mar. Era o abraço de uma criança. Era o meu abraço silencioso, de mim para mim, do mundo em mim, e de mim para o mundo.
Comecei a conhecer o Mamanguá, comecei a conhecer Deus.

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