O ritual diário de deslizar os
dedos pela tela de meu celular, a fim de me inserir nas atualidades postadas
pelos meus conhecidos nas redes sociais, tem se tornado entediante – se é que
sempre não o foi. Principalmente nestes meses que antecedem as eleições, tenho
sentido que a complexidade inerente ao diálogo tem sido pressionada ao limite,
até se tornar um estreito post de Facebook.
“A Marina é evangélica e eu não voto em evangélicos”; “A
Dilma é do PT e eu não voto em partido de corruptos”; “Aécio Never”. Após cada
debate televisivo entre os presidenciáveis, a enxurrada de opiniões e
impressões – forte, assustadora, porém passageira – muitas vezes vem para
eliminar qualquer início de pensamento.
Urgentes em informar seus curtidores sobre o destino de
seu voto à Presidência da República, muitos de meus amigos facebookianos acabam
entrando em uma guerra de singularidades. Expressam-se sem considerar a
existência do Outro – tanto o interlocutor quando o objeto da fala -,
descarregam frases engessantes e engessadas, abortando o pensamento antes que
este pudesse se transformar em feto.
Há quem diga que vivemos, hoje, uma realidade que permite
o exercício de nossas liberdades, principalmente no que diz respeito às
possibilidades de comunicação em rede. Sim, as potencialidades da internet são
inúmeras: organizamos e conectamos movimentos sociais; acessamos e produzimos
conteúdos que no passado poderiam ter sido censurados; criamos novos espaços de
convivência.
Ao mesmo tempo, muitas dessas flechas que - sob a forma
de incógnitas - apontam para novos olhares são derrubadas pela pressa de transformar
contos em fábulas. Acabamos por informar muito e comunicar pouco, por concluir a
síntese sem antes exercer o duro diálogo com a antítese. Nas redes sociais e
fora delas, falta-nos tempo silencioso para compreender a pluraridade, que,
como afirmou Hannah Arendt, é condição humana.