quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ontem foi um daqueles dias de dúvidas. Na verdade, um dia de muitas dúvidas. Sem imaginar, ele terminou cheio de coragem para ideias novas, e devo isso à Maria Rita Kehl.
Cheguei na palestra de ontem, na Cásper, sem saber que as palavras dessa psicanalista e escritora me abraçariam de um jeito que as minhas próprias palavras são incapazes de expressar.
O tema era "o jornalismo muda a sociedade?". Acredito que muitos estudantes, embora não todos,
se sentem perseguidos por essa perguntinha angustiante. Ao mesmo tempo, a busca pela sua resposta é, possivelmente, o motor propulsor daqueles que vão às ruas à procura de estórias novas, surpreendentes, e vozes que não deveriam sussurrar, e, sim, berrar no alto-falante.
Me sinto aliviada quando ouço alguém falar sobre a inexistência da neutralidade nas reportagens. E a Maria Rita Kehl foi mais uma das que também acreditam que os meios de comunicação escrevem para um público, tendo os trabalhadores desses meios opiniões próprias, explicitadas ou subentendidas nas linhas escritas por eles.
Nesse sentido, a escritora diz que o jornalista tem, sim, essa capacidade de mudança ao escrever sobre vidas que ninguém vê, vítimas de descaso em termos de políticas públicas. Entretanto, o desejo de mudança deve estar também na própria sociedade, ainda muito conformista. Gostei das suas palavras quando falava sobre transformação social e a falta de ação por parte de muitos: "o conformismo dá depressão".
Ao falar sobre Pinheirinho, desocupações na região da Luz, ditadura militar e MST, Kehl posiciona-se a favor da maior divulgação de injustiças sociais, como essas, na grande mídia, formadora (ou destruidora?) de opiniões. O grande silenciador dos alto-falantes são os oligopólios dirigentes dos grandes jornais, claramente desinteressados na igualdade entre aqueles por eles manipulados. Para a psicanalista, a liberdade de imprensa só sera plena quando houver órgãos que representem, de fato, a sociedade. Esses órgãos existem ou estão em construção e tem a potencialidade de crescer e espalhar boas ideias:de mudanças coletivas. E é dessa construção que eu quero fazer parte, principalmente após descer o escadão da Paulista, 900, pensando que não estou sozinha.

domingo, 6 de maio de 2012

A Pedroso sem Raimundo

Passei os dias desde o meu último post sobre Raimundo Arruda pensando em uma forma de ajudá-lo.  Publicar o seu diário? Será que ele gostaria de ver as suas palavras sendo vendidas? Levar alimentos para ele todos os dias? Pensar em como tirá-lo de lá? Mas será que ele queria sair de lá? Não sei. Assim como não sei muitas coisas, e esse não saber às vezes paralisa. Dizem que ao escrever sobre algo ou alguém, você dá voz a uma situação que muitas vezes não é divulgada por aí, e que, assim, já está transformando a realidade.Talvez eu mesma tenha escrito isso no meu primeiro dia de "blogger". Mas acredito que essa questão é a que mais tem me perseguido e, de certa forma, me incomodado nos últimos tempos. Como eu, sentada na frente desse computador, escrevendo sobre situações que me comovem e sensibilizam, estou tranformando essas situações de verdade? Muitos falam que eu deveria me questionar menos, mas cada vez que sento para escrever, a sensação é a mesma.
Bom, voltemos ao Raimundo. Pensando (imobilizada) mais uma vez sobre todas essas questões, passei ontem pela "Ilha Pedroso de Moraes", como Raimundo costumava chamá-la, e ele não estava mais lá. Nem ele, nem seus escritos. Só havia uma placa na mangueira embaixo da qual ele passou 19 anos, dizendo que Raimundo está agora em um CAPS no Itaim e passa muito bem. O que me deixou feliz, foi o fato de alguém ter criado uma página no Facebook para ele. A partir dela, conseguiram achar membros da família da família Arruda. Ele passou uma tarde inteira conversando com seu irmão, que veio de Goiás para encontrá-lo.  

Assim que possível, vou até o CAPS visitar o escritor que me fez enxergar além do enquadramento da janela do carro, do ônibus, ou melhor, da minha própria janela. A questão, porém, não é somente enxergar além dela, e, sim, quebrá-la de vez.
A Pedroso está diferente sem as suas palavras, mas espero que elas, assim como Raimundo, estejam agora protegidas da chuva, do frio e da invisibilidade, constantes em nossa cidade. Constante como a minha dúvida: o que representou para ele a nossa conversa naquela quarta-feira na "Ilha"?