terça-feira, 11 de junho de 2013

Sim, pensar dói. Mas e daí?

Há tempos reflito sobre a pergunta "Pensar dói?", sobretudo depois de ter iniciado o curso de jornalismo no ano passado. Acredito que livros como o de Neal Gabler, comentado aqui, deveriam ser conteúdo obrigatório de cursos de comunicação, atualmente produtores de robôs da mídia de massa.

Vivemos na hibridização entre o real e o virtual, em que ficcionalizamos questões sociais para nos sentirmos confortáveis, como em uma sala de cinema. Nesse processo, ao invés de criarmos novos paradigmas, conservamos uma sociedade vazia de grandes ideias.

Esse estado de entorpecimento resulta da era pós-hiper-moderna, que alguns autores preferem chamar de pós-humana. Estaríamos vivendo uma exteriorização de nossas capacidades cognitivas, já que uma máquina teria se tornado capaz de armazená-las. Entretanto, para os amadores, ou mesmo para os "nativos digitais", a capacidade de produção de conteúdos críticos parece ser mais que exteriorizada, mas eliminada por completo.

Não há construção de respostas em um ambiente que desvaloriza o potencial criativo humano. Como pensar em soluções criativas para uma sociedade que medicaliza e condena as dores e os erros, essenciais à imaginação e ao pensamento crítico? Mesmo que exista o maior índice de síndrome do pânico e depressão, continuamos postando fotos de nossa felicidade constante nas redes sociais.

Em um de seus textos, Virginia Woolf dissertou que não há liberdade intelectual sem liberdade material. Nesse sentido, a busca incansável do lucro é também a busca manipulada do emburrecimento coletivo. Enquanto consomem nossos pensamentos, os magnatas da Indústria Cultural dão uma risada eufórica nos bares caros por aí.

Além disso, a velocidade e excesso de informação possibilitam o acesso de todos a tudo, menos a nós mesmos e aos nossos desejos, como bem escreveu Eliane Brum aqui. Tanto o auto-conhecimento quanto o conhecimento do mundo exigem a calma que o Facebook rejeita. Nessa e em outras redes, nos mantemos na superficialidade das trocas fáticas ("oi, tudo bem?", "que saudades"). Quem não concorda em ser pós-humano é comumente tratado como descomprometido, vagal e distante da roda-gigante do capital.

Nadar contra o dilúvio da desinformação significa retornar ao silêncio - não só dos livros, mas de nós mesmos -, de que nossas mentes necessitam para, depois, produzir respostas coletivas. Pensar dói, mas revoluções sempre nasceram de respostas não-medicalizadas, engajadas e criativas, ao desconforto e à angústia do cotidiano.

Em um momento em que se questionam os papéis das escolas e das universidades frente às transformações sociotécnicas, acredito que ainda seja indispensável a sua função de proporcionar discussões aprofundadas sobre esses desconfortos do dia a dia. Entre eles, está a forma como lidamos com o excesso de informações na internet e a virtualização do real. Isso será possível somente quando compreendermos que o pensamento crítico nos emancipa das ilusões mercadológicas.