domingo, 13 de dezembro de 2015

"Oi, preciso conversar"

"Oi, preciso conversar". A menina ensaiava essa frase repetidas vezes dentro de sua cabeça. Gostaria de dizer isso a alguém que ela não sabia bem quem era. Sabia que era alguém que não poderia ouvi-la. Alguém que estaria ocupada demais com trabalho, família, pendências de fim de ano. Alguém a quem ela sempre pedia desculpas por desabafar. "Desculpa se estou te enchendo". 

Toda vez que tentava dizer "oi, preciso conversar", dizia qualquer outra coisa para substituir. "Estou com saudades!", "qual o contato daquela pessoa, mesmo?", "vou fazer um churrasco aqui em casa, quer vir?". Qualquer coisa que não fosse "oi, preciso conversar". 

E seguia sentindo que suas angústias eram pequenas, seguia pensando em como a outra pessoa receberia seu pedido de ajuda, de afeto. Via, do outro lado da tela, alguém que dizia "de novo ela com seus desabafos sem sentido, que chatice!". 

Essa imagem travava suas palavras. Digitava algumas vezes "oi, preciso conversar" e não enviava. Por medo do que a outra pessoa iria pensar, seguia acreditando que ser adulta era engolir o choro, era não dizer "oi, preciso conversar", para não atrapalhar ninguém.