sexta-feira, 17 de maio de 2013

Resposta ao artigo "Pela sina dos medíocres", de Nirlando Beirão, publicado na Carta Capital

http://www.cartacapital.com.br/blogs/qi/pela-sina-dos-mediocres

Caro Nirlando Beirão,

Gostaria de parabenizá-lo pelo artigo “Pela sina dos medíocres”, publicado na última edição de Carta Capital. Ainda há espaço para refletirmos criticamente acerca da mídia e da sociedade brasileira, e as suas palavras são uma prova disso e de que não devemos nos acostumar à concepção carnavalizada do País.

Marcelo Tas e o programa CQC mostram os rumos tortuosos da cultura brasileira de massa. Ao resumir entraves políticos do nosso Congresso Nacional ao riso fácil, Tas comprova sua decisão em desviar dos caminhos que o jornalista Goulart de Andrade lhe apontou há trinta anos. Na década de 1980, o jornalismo investigativo ganhava forças em programas como “Comando da Madrugada”, distantes da televisão brasileira nos dias atuais, talvez por não apresentarem o “humor inquisitorial fácil e seletivo” que o senhor definiu como característico do CQC.

As covardias do programa da Band reproduzem conservadorismos estruturais do Brasil, uma vez que sussurram para os telespectadores que devemos nos indignar com os políticos corruptos, sem a sugestão de rupturas com a lógica maquiavélica que rege os principais órgãos políticos do País.

São programas como o CQC que carnavalizam o Brasil e bestializam os brasileiros. Por meio da comédia a respeito de questões sociais, levantamos de nossos confortáveis sofás e dormimos tranquilos. No máximo, vamos a passeatas e voltamos para casa com a sensação de termos contribuído para um país mais justo. Os grandes jornais reforçam essa questão quando estampam em suas capas fotos desse carnaval fora de época. E o pior: são vendidos como água.

Entretanto, não somos medíocres, por isso devo discordar do termo “mediocridade alheia”, presente em seu artigo. Existe um abismo entre ser medíocre e ser tratado como tal pelos conglomerados midiáticos. Estes almejam, por fim, manter em nossas mentes a ilusória sensação de que tudo vai bem, pois alguém como Marcelo Tas estaria denunciando os descasos políticos por nós. Medíocre é quem dita essas regras e se esquece de que todos nós somos autores da política, incluída a tribo do CQC, de acordo com o senhor.

Acredito que o seu artigo seja uma exceção positiva em meio à liquidez e à superficialidade do jornalismo em crise. Pensar a mídia de forma metalinguística é refletir criticamente acerca das vozes que compõem a cultura brasileira. Essas vozes são nossas e têm muito mais força do que os sussurros covardes de muitos programas da televisão brasileira. Se formos rir das crises políticas e jornalísticas, que isso seja influenciado pelas ironias e ceticismos machadianos, e não pelo riso besta.

Atenciosamente,

Priscila Kesselring
Estudante do jornalismo em crise