Caro Nirlando Beirão,
Gostaria de parabenizá-lo
pelo artigo “Pela sina dos medíocres”, publicado na última edição de Carta
Capital. Ainda há espaço para refletirmos criticamente acerca da mídia e da
sociedade brasileira, e as suas palavras são uma prova disso e de que não
devemos nos acostumar à concepção carnavalizada do País.
Marcelo Tas e o
programa CQC mostram os rumos tortuosos da cultura brasileira de massa. Ao
resumir entraves políticos do nosso Congresso Nacional ao riso fácil, Tas
comprova sua decisão em desviar dos caminhos que o jornalista Goulart de
Andrade lhe apontou há trinta anos. Na década de 1980, o jornalismo
investigativo ganhava forças em programas como “Comando da Madrugada”,
distantes da televisão brasileira nos dias atuais, talvez por não apresentarem
o “humor inquisitorial fácil e seletivo” que o senhor definiu como
característico do CQC.
As covardias do
programa da Band reproduzem conservadorismos estruturais do Brasil, uma vez que
sussurram para os telespectadores que devemos nos indignar com os políticos
corruptos, sem a sugestão de rupturas com a lógica maquiavélica que rege os
principais órgãos políticos do País.
São programas como o
CQC que carnavalizam o Brasil e bestializam os brasileiros. Por meio da comédia
a respeito de questões sociais, levantamos de nossos confortáveis sofás e
dormimos tranquilos. No máximo, vamos a passeatas e voltamos para casa com a
sensação de termos contribuído para um país mais justo. Os grandes jornais
reforçam essa questão quando estampam em suas capas fotos desse carnaval fora de
época. E o pior: são vendidos como água.
Entretanto, não somos
medíocres, por isso devo discordar do termo “mediocridade alheia”, presente em
seu artigo. Existe um abismo entre ser medíocre e ser tratado como tal pelos
conglomerados midiáticos. Estes almejam, por fim, manter em nossas mentes a
ilusória sensação de que tudo vai bem, pois alguém como Marcelo Tas estaria
denunciando os descasos políticos por nós. Medíocre é quem dita essas regras e
se esquece de que todos nós somos autores da política, incluída a tribo do CQC,
de acordo com o senhor.
Acredito que o seu
artigo seja uma exceção positiva em meio à liquidez e à superficialidade do
jornalismo em crise. Pensar a mídia de forma metalinguística é refletir
criticamente acerca das vozes que compõem a cultura brasileira. Essas vozes são
nossas e têm muito mais força do que os sussurros covardes de muitos programas
da televisão brasileira. Se formos rir das crises políticas e jornalísticas,
que isso seja influenciado pelas ironias e ceticismos machadianos, e não pelo
riso besta.
Atenciosamente,
Priscila Kesselring
Estudante do jornalismo
em crise